sábado, 7 de novembro de 2015

Sério, você TEM que ler Carlos Ruiz Zafón


Oi galerinha, tudo bom com vocês?

Hoje é um belíssimo sábado, são quase oito da noite e eu passei O DIA TODO escrevendo trabalhos para a faculdade. Não aguento mais ouvir falar de Piaget ou Vygotsky ou semântica ou ambiguidade ou vagueza ou continuidade textual, não, chega, pra mim já deu. Então, para espairecer minha cabeça, venho escrever mais pois sou extremamente masoquista sobre esse autor lindo, maravilhoso, xeroso e simpático que é o Carlos Ruiz Zafón.

Zafón é um escritor de romances espanhol, que atualmente mora em Los Angeles, e eu li quatro dos sete livros que ele publicou. Li os quatro esse ano, por indicação dos meus amigos (tão divos e xerosos quanto o Zafón) Gabriel e Maíra, e só posso dizer que estou completamente apaixonada pela escrita deste homem.

"Cresci no meio de livros fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfaziam em pó e cujo cheiro ainda conservo nas mãos."
- A Sombra do Vento




"Bea diz que a arte de ler está morrendo muito aos poucos, que é um ritual íntimo, que um livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que carregamos dentro de nós, que colocamos nossa mente e alma na leitura, e que esses bens estão cada dia mais escassos."
- A Sombra do Vento

Meu objetivo não é fazer uma resenha dos livros, na verdade eu não faço ideia do meu objetivo, a questão é que eu amo esse autor e os livros dele e eu queria que todas as pessoas conhecessem o trabalho dele, por que, sério, é espetacular.

Na verdade, acabei de decidir que vou falar um pouco sobre a época em que li cada um dos livros do Zafón e o que impacto eles tiveram na minha vida. Esses livros foram, cada um de uma maneira bem diferente, muito importantes em alguns momentos da minha vida.

A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu se passam no mesmo universo,e contam uma história entrelaçada, ainda que nenhum seja exatamente a continuação um do outro. Você pode ler qualquer um deles em qualquer ordem e não perderá nada da história, mas eu achei mais legal ler na ordem de publicação, pois assim faz mais sentido. Os três livros se passam em Barcelona e giram em torno do escritor Julián Carax, o Cemitério dos Livros esquecido e a Livraria Sempre e Filho. OS LIVROS SÃO INCRÍVEIS.

"Ainda não posso morrer, doutor. Ainda não. Tenho coisas a fazer. Depois tenho a vida inteira para morrer."
- O Jogo do Anjo



"Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que leram, que viveram e sonharam com ele."
- A Sombra do Vento

A Sombra do Vento é o livro mais conhecido do autor e também foi o primeiro dele que eu li. Não sabia bem o que esperar, nunca tinha lido nada do tipo - uma espécie de romance histórico fantástico - e estava com medo de não gostar. Espero que meu professor de Literatura não esteja lendo isso, mas eu posso jurar que, mesmo escrevendo apenas prosa, Zafón tem um toque lírico em cada sentença que escreve. Você consegue sentir a beleza das palavras, que às vezes tem múltiplos significados em seu texto.

Todos os livros de Zafón - pelo menos, os quatro que li - tem uma história principal (que se passa no tempo presente da história) e tem uma segunda narrativa, geralmente completamente embaralhada com a história principal, e às vezes você só entende por que as duas histórias eram contadas simultaneamente no final.

Lembro que, quando eu estava lendo A Sombra do Vento, era um sábado e eu estava na faculdade em que estudo Letras para fazer uma atividade extracurricular. Nesse dia estava ventando muito e estava difícil ler do lado de fora, por que o vento levava as páginas a todo momento, fora as folhas que caíam das árvores. Eu estava esperando que fossem me buscar e não tinha nada mais para fazer. Ao mesmo tempo, o professor Rodrigo, do curso de história - não sei o que ele ensina, mas sei que uma vez ele deu aula com um cachorro do lado dele - estava enfeitando a árvore do lado de fora - para quê, eu não sei -, colocando pedaços de pano, guizos, um tênis e outros objetos para que ela ficasse bastante enfeitada. Os enfeites estão lá até agora, e já faz uns bons seis meses que isso aconteceu. Ah, metade da árvore caiu depois de uma chuva muito, muito forte mesmo, há mais ou menos um mês. Enfim, essa imagem do professor decorando a árvore enquanto eu lutava com as páginas do livro ficou na minha cabeça.

Essa é a árvore <3
"— Os livros são chatos.
— Os livros são espelhos: Neles só se vê o que possuímos por dentro."
- A Sombra do Vento

"─ Por onde quer que eu comece?

─ Você é o narrador. Só peço que me diga a verdade.

─ Não sei o que é a verdade.
─ A verdade é o que dói"
- O Jogo do Anjo


O Jogo do Anjo foi o segundo livro de Zafón que eu li, apenas um pouco depois de A Sombra do Vento. O livro não é uma continuação de A Sombra do Vento, mas se passa no mesmo universo e tem alguns personagens em comum. 

Este livro foi incrível. Me senti extremamente conectada com o personagem principal, David, que descobre que está doente e perde toda a esperança em seu sonho de ser um grande escritor. Após vários acontecimentos misteriosos e que ele acredita serem delírios, ele começa a se recuperar estranhamente da doença - a pesar de ainda estar com a doença, não está mais doente. 

Eu me identifiquei com David por causa de meu desejo de ser escritora, por já ter passado por momentos em que eu não sabia se o que estava acontecendo comigo era real ou não, e eu conseguia entender e sentir na pele o medo que David tinha de nunca conseguir realizar seu maior sonho, que era escrever algo que fosse sincero conforme seu coração.

Li as últimas trinta páginas deste livro esperando para ser atendida pelo médico e descobrir que estava - ainda estou - com anemia e precisaria de encaminhamento médico para o psicólogo. Nunca me identifiquei tanto com um personagem. Depois que terminei este livro, fiquei algum tempo sem conseguir ler nada. Estava presa ao espírito de David.

"Acho que o senhor não tem muitos amigos. Nem eu. Não confio nas pessoas que acham que têm muitos amigos. É sinal de que não conhecem os outros."
- O Jogo do Anjo



"Às vezes a pessoa se cansa de fugir, o mundo é muito pequeno quando não se tem aonde ir."
- O Prisioneiro do Céu

Depois de um bom tempo sem conseguir ler nada, finalmente comecei a ler O Prisioneiro do Céu. Terminei o livro em dois dias (ele é curtinho, mas, mesmo assim, eu estava com saudade de ler). A questão é que O Prisioneiro Céu é um livro espetacular, e difere dos outros dois livros do mesmo segmento (Trilogia do Cemitério dos Livros Esquecidos, como costumam chamar). Enquanto A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo contam duas histórias paralelas que acabam se encontrando no final da narrativa, O Prisioneiro do Céu tem a história do presente e do passado protagonizadas pelo mesmo personagem, e ainda assim você se surpreende com o final da história do passado e da história do presente. Esse livro é incrível.

Lembro que, no segundo dia em que peguei para ler, faltando pouco mais de 150 páginas para terminar o livro, eu comecei a ler e a ler e a ler mais e mais e mais e não conseguia tirar os olhos do livro. Passei a tarde toda na loja em que trabalho, atendendo os clientes e lendo desesperadamente, peguei o ônibus para ir para a faculdade e li o livro usando a lanterna do celular e depois mal consegui assistir às aulas da faculdade, querendo terminar logo o livro. Assim que terminei de ler minha amiga Maíra, que só tinha lido os dois primeiros da trilogia (a pesar dos livros tecnicamente não seguirem ordem nenhuma), me pediu o livro emprestado, e eu deixei meu exemplar com ela. Era o último dia de aula do primeiro semestre da faculdade e ela só me devolveu o livro no primeiro dia de aula do semestre seguinte.

Foi muito estranho passar um dia todo me desdobrando para ler este livro, passando horas com ele nas mãos e ansiando pelo fim da história, para depois ficar separada do livro por mais de um mês. Foi estranho, mas ao mesmo tempo, me deu uma sensação de... como posso explicar? Saber desapegar um pouco das coisas que nos cativam, acredito.

"Os loucos sempre acham que os loucos são os outros."
- O Prisioneiro do Céu


"A gente só se lembra do que nunca aconteceu."
- Marina

Na primeira vez em que tentei ler Marina, dois ou três meses atrás, li pouco mais de 60 páginas e abandonei o livro. Nessa mesma época, abandonei outras duas leituras (Clube da Luta e Espadachim de Carvão, ambos livros eu eu retomei mais tarde e adorei). A verdade é que, naquela época, eu estava muito mal. Tão mal quanto nunca estive antes. Minha depressão e minha ansiedade estavam batendo nas alturas, eu mal conseguia comer ou dormir ou raciocinar, tive várias crises de pânico, fui para o hospital e finalmente comecei um tratamento psiquiátrico, usando antidepressivos, para poder voltar ao normal.

Eu ter odiado Marina justamente na época em que estava em depressão profunda me faz pensar na minha teoria (da qual Zafón compartilha, como você pode ver pelos quotes que selecionei) de que a gente só gosta dos livros que lê quando encontra algo de nós neles, e enquanto a gente não tiver nada de bom a oferecer ou nada de bom a procurar nunca vamos realmente gostar de livro nenhum. 

Há duas semanas, já no tratamento há um bom tempo e tendo melhorado significativamente, decidi dar uma nova chance a Marina. O livro é espetacular. Não sei se é o meu favorito de Zafón, mas com certeza é um dos livros mais profundos, tocantes e tristes que já li. A história é linda, cheia de mistério, aventura, tem várias narrativas paralelas que se entrelaçam no fim e tem os personagens mais verossímeis que você é capaz de imaginar. Li este livro em três dias e me apeguei a Marina da mesma forma obsessiva que o personagem principal, Óscar, se apegou à Marina do livro. Me apaixonei profundamente pela história deste livro e minha vontade, ao terminá-lo, era de ler tudo de novo e chorar mais uma vez. Eu sofro muito.

"Toda a geografia, trigonometria e aritmética desse mundo são inúteis, a não ser que você aprenda a pensar por si só. Nenhuma escola te ensina isso. Não está no currículo"
- Marina

Tirei essa foto no dia em que o vento insistia em me atrapalhar a leitura.
"- Sabe o que é bom nos corações partidos? - perguntou a bibliotecária. Neguei. - É que só podem se partir de verdade uma vez. O resto são apenas arranhões."
- O Jogo do Anjo

Bom... Não sei bem o que esse post foi, mas gostei de escrevê-lo. Consegui refletir sobre esses livros e o impacto que tiveram na minha vida. É incrível como, às vezes, os livros costumam espelhar a realidade muito melhor do que a realidade propriamente dita consegue, não é?

Vou acabar o post por aqui. Espero que tenham gostado e espero que se interessem pelos livros do Zafón. Juro, são espetaculares. E espero poder ler, em breve, os três livros do autor que ainda não li. 

Beijos e até a próxima ;)

"O destino não faz visitas em domicílio, é preciso ir atrás dele."
- O Prisioneiro do Céu

3 comentários:

  1. Oi Nath, tudo bom? ^-^
    Fazia um tempinho que não passava por aqui e decidi vir dar uma olhada nas novidades. Qual não foi a minha surpresa ao ver que o seu último post foi justamente sobre o Zafón, o autor de um dos livros (A Sombra do Vento) que eu estou na dúvida se devo dar uma chance para a leitura agora, ou esperar mais um pouco.
    O tamanho do post me assustou um pouco - olha só quem tá falando né? mas tudo bem, kkkk -, mas não me arrependo de ter lido até o fim. Adorei conhecer a sua história com os livros do autor, e fiquei extremamente cativada por esses quotes lindíssimos que você selecionou! Deu pra perceber esse toque poético na escrita do Zafón e já estou apaixonada por ele antes mesmo de ler seus livros! *u* kkkk.
    Com toda certeza o seu post me animou com a ideia de leitura de "A Sombra do Vento", e o livro já está nas minhas leituras desse mês. Tomara que a história me encante tanto quanto esses quotes lindos e maravilhosos! *-* <3

    Um super beijo e uma ótima sexta-feira! :*
    www.inconstantecontroversia.blogspot.com

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    1. OI RAFA MEU DEUS VOCÊ POR AQUI <3

      Então, meus posts ficam enormes justamente por que eu enfio várias imagens nele e coloco os quotes em letras enormes, mas o texto TEXTO mesmo dá pouco mais de duas folhas no word. Mas a gente sempre se empolga para falar de coisas que gosta *-*

      Eu tenho certeza que você vai amar! O livro é excelente, mesmo sendo bem diferente do que a gente tá acostumada a ler, é impossível não perceber a genialidade desse autor. As histórias dele tem alma.

      Beijos e um bom fim de semana *O*

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  2. Essa parte "a arte de ler está morrendo muito aos poucos,fica em que capítulo do livro "a sombra do vento"?

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