terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Diário da Mariposa é um livro/filme surpreendentemente subestimado e incrivelmente bom (a seguir, motivos para ler/assistir)

O Diário da MariposaAutora: Rachel Klein
Título original: The Moth Diaries
Editora: Planeta do Brasil
É bom?: ★★
Páginas: 336

Sinopse: Em um colégio interno nos anos 1960, uma garota acha que sua melhor amiga está sendo atacada por uma vampira - Ernessa, a menina nova no colégio. Entre terror psicológico e mortes suspeitas, o diário da protagonista prende a atenção do leitor, e apesar de sua narradora também não ser confiável, não conseguimos parar de nos perguntar: será Ernessa realmente um vampiro?






O LIVRO

Eu honestamente não dava absolutamente nada pra este livro. Minha história com ele começou quando eu estava na rodoviária em São Paulo com meu namorado, esperando o ônibus chegar, quando vi uma placa enorme que dizia FEIRA DE LIVROS POR 5 E 10 REAIS, e eu obviamente fui direto para esta feira. Chegando lá bati de cara com este livro, de capa simplesmente horrorosa, e então me lembrei vagamente de ter lido uma resenha que falava super mal do livro, e isso bastou para que eu decidisse comprá-lo (?) (era só R$10 mesmo). 
Cheguei em casa e, a pesar de ter vários livros para ler que já estavam na fila há anos (literalmente) eu não pude deixar de querer passá-lo na frente de todos os outros (por que eu não tenho auto-controle). Comecei a ler o livro e a única palavra capaz de descrever minha sensação é essa:

MASOQ

Eu não sei por que não tinha lido esse livro antes! Mas antes de falar todas as minhas impressões eu vou fazer uma pequena sinopse estilo sessão da tarde, por que não gosto muito da sinopse do livro. Lá vai: Em O Diário da Mariposa nós nos deparamos com uma jovem garota sem nome (a Mariposa) que vai estudar num colégio interno depois da morte do seu pai. A Mariposa tem uma melhor amiga, a Lucy, que é uma garota americana bem comum dos anos 60. Mas essa relação de amizade entre as duas é na verdade uma obsessão desmedida que a Mariposa tem pela menina. A Mariposa está contente com a perspectiva de viver com Lucy no colégio interno, mas sua fantasia começa a se desmontar quando Lucy se torna amiga de Ernessa, uma garota esquisita que é desconfortavelmente semelhante à própria Mariposa em vários aspectos.

Ernessa (Lily Cole), Lucy (Sarah Gadon) e Rebecca (Sarah Bolger) (nome da personagem no filme, mas no livro ela não tem nome)

O livro me prendeu. Muito. Tipo, a ponto de eu ficar super obcecada e ficar matutando sobre a história e o que aconteceria a seguir nos momentos em que eu não estava lendo. Perdi a conta de quantas vezes fiquei navegando pelo tumblr na tag "the moth diaries" e de quantas vezes assisti ao trailer do filme. Eu realmente fiquei vidrada na história.

Eu acredito que o que diferencia O Diário da Mariposa de outros livros de drama adolescente é que ele não tende ao lado otimista da vida, e a toda página você tem medo que outra tragédia aconteça com algum personagem. Desde o começo você já imagina que o final será triste ou trágico e fica se perguntando, afinal, o que acontecerá.
Logo no prefácio do livro a Mariposa se apresenta e diz que o que você lerá a seguir será seu diário de quando era adolescente, e que o psicólogo dela acreditava que o diário dela era interessante para ajudar outras garotas com transtorno de personalidade limítrofe a entender a condição, etc. O transtorno de personalidade limítrofe é parecido com um transtorno bipolar, mas pior (não sou psicóloga, google it).

Rebecca (a Mariposa)
Conforme você lê o livro você percebe que a autora fez um trabalho fantástico em traçar o perfil psicológico da Mariposa. Ela é uma personagem completamente obcecada por livros e pela amiga Lucy, com um senso de amizade distorcido, meio puxado para o lado doentio. A Mariposa não quer que Lucy tenha outras amigas, não quer que Lucy se afaste dela e ela cuida de Lucy como se a garota fosse sua filha. Ela ainda tem assuntos não resolvidos com a morte do pai, que era um poeta, e não consegue entender completamente os próprios sentimentos. Ela ama e odeia as pessoas facilmente, é capaz de mudar de opinião sobre vários assuntos depressa e às vezes sem motivo aparente e, quando se convence de algo, é quase impossível que mude sua opinião.
Fora os assuntos da própria Mariposa o livro aborda vários temas que são tabus, como drogas, sexo, automutilação, anorexia e bulimia e afins. Tudo isso numa história onde 99% das personagens são mulheres, todas muito diferentes umas das outras e com personalidades e problemas distintos. Um livro sobre diversidade feminina, afinal õ/

Ela nunca come.
Quando Lucy começa a passar mais tempo com Ernessa do que com ela, a Mariposa se sente ameaçada e começa a encontrar (mesmo onde não há) motivos para afastar as duas garotas. Ela acredita que Ernessa é uma má influencia para Lucy, pois a garota nunca come, não costuma conversar com as pessoas, fica trancada no quarto o tempo todo e consegue privilégios que outras meninas não conseguem (como não comparecer ao café da manhã ou faltar às aulas). O assunto sobre o qual a Mariposa mais gosta de falar é Ernessa e suas peculiaridades, e quando outra garota diz que ela está ficando louca a Mariposa simplesmente julga a pessoa como idiota e cega. Ela é bastante imparcial quando se trata de Ernessa.

O vampiro é uma figura bastante solitária.
Quando o professor de literatura da Mariposa pede para as alunas lerem Carmilla, uma história de terror gótico sobre uma vampira, que precede a publicação de Drácula (tendo Carmilla sido uma inspiração para Bram Stoker), a Mariposa se sente completamente obcecada pelo livro (tipo eu e o Diário da Mariposa). Ela acredita que Ernessa é uma vampira, e que está tentando sugar a vida de Lucy lentamente, roubando a amiga dela. Aos poucos a Mariposa vai encontrando "provas" de que Lucy é uma vampira, como o fato de que passa mal ao entrar na água, ela reconhece o cheiro de um necrotério, nunca come, Lucy deixa de usar sua cruz quando se torna amiga de Ernessa, etc.


Mas o que eu mais gostei no livro de verdade é o fato de que você não pode confiar na narrativa da Mariposa. Ela mente e tem uma visão distorcida dos fatos. Você conhece bem a Mariposa, mas não sabe nada com certeza sobre mais nenhum outro personagem. Todos eles estão distorcidos pela visão da narradora, que só escreve o que lhe é conveniente e altera informações para que sua narrativa seja mais consistente. Ela jamais aceitaria escrever algo elogioso sobre Ernessa, por exemplo. 
Durante o livro todo você não sabe se Ernessa é mesmo uma vampira ou se é apenas a paranoia da Mariposa atingindo novos patamares. Você não sabe se o que você está lendo é o que aconteceu mesmo ou um dos devaneios da autora. E isso foi uma sacada GENIAL da Rachel Klein, que conseguiu manter o suspense e o traço de terror psicológico até o final.


Outro aspecto do livro do qual gostei muito é que a autora retratou muito bem o preconceito religioso que os judeus sofriam nos anos 60. As únicas garotas judias no colégio interno são Ernessa e a Mariposa, e a própria Mariposa diz que isso é um motivo pelo qual muitas professoras não gostam dela e de Ernessa (tipo a professora de Educação Física, que nunca coloca a Mariposa nos times melhores e obriga Ernessa a realizar natação, que ela odeia).
Na verdade, a autora foi fantástica em reconstruir a década de 60 no contexto da história. Ela deve ter feito uma pesquisa e tanto.

O FILME

Título: Relação Mortal
Título original: The Moth Diaries
Tempo de duração: 1h22min
Direção: Mary Harron (Psicopata Americano)
Roteiro: Mary Harron e Rachel Klein
Gênero: Terror e suspense
É bom? ★★
Sinopse: Baseado no romance homônimo de 2002, assinado por Rachel Klein, o filme segue Rebecca (Sarah Bolger), uma jovem de 16 anos que após o suicídio do seu pai entra para um colégio interno. Rapidamente ela se encanta com a sua colega de quarto, Lucy (Sarah Gadon), mas não entende o fascínio que Ernessa (Lily Cole) uma figura pálida, enigmática, melancolia, e com olhos hipnotizantes e fascinantes, exerce sobre ela. Aos poucos, Rebecca registra tudo o que acontece num diário e convence-se de que Ernessa é uma vampira.

No geral eu achei que a adaptação de O Diário da Mariposa foi muito bem feita, bastante fiel e, na minha opinião, deu um ótimo filme de suspense!
Como qualquer adaptação, nem tudo ficou igual. No filme a Mariposa ganhou um nome, Rebecca, o que já caracteriza uma mudança bem grande na perspectiva geral da obra. Outra mudança (que a principio eu não gostei, mas depois aceitei) é que o filme não se passa nos anos 60, mas sim na época em que foi produzido (2011-2012). Mas essa mudança não fica muito óbvia, e acho que a diretora preferiu assim pois dessa maneira seria mais fácil de conquistar o público jovem.

Algumas pessoas encontram grande alegria na perspectiva da morte.

Em relação ao elenco, só tenho elogios. A atriz que faz a Ernessa, Lily Cole, é completamente assustadora! É bonita, mas tem uma expressão facial que te deixa receoso. Talvez seja as sobrancelhas.

As atrizes que fazem a Rebecca e a Lucy, Sarah Bolger e Sarah Gadon, ficaram muito boas no papel. Todos os atores correspondiam bem ao personagem do livro, mas Ernessa era simplesmente espetacular. Com certeza Lily Cole era a atriz perfeita para o papel.


O filme se focou muito mais no tema da depressão e da automutilação e abordou pouco o tema das drogas (que no livro era mais explícito. Mas acho que isso aconteceu por causa da mudança da época da história, pois nos anos 60 as garotas tinham permissão dos pais para fumar cigarros na escola, por exemplo). Eu gostei bastante dessa mudança de foco, pois deu uma aura mais dark e gótica ao filme, que afinal é mais puxado para o terror e menos para o drama, quando o livro é o contrário.
Outro elogio que tenho a fazer à adaptação é que a diretora adaptou umas cenas do livro de forma INCRIVELMENTE FIEL, TIPO, MUITO FIEL, FICOU MUITO PERFEITO (sem dar spoilers, mas a cena em que a Ernessa canta uma cantiga infantil... MEU DEUS!). A diretora também colocou uns detalhes e diálogos exatamente iguais aos do livro, o que me deixou bastante contente.

O momento da morte é estático, ele te proporciona a mais prazerosa sensação.

Uma das poucas coisas que não gostei no filme em relação ao livro é que eles tentaram fazer a Ernessa parecer mais vampira do que devia, pois no livro tudo ficava com um ar de dúvida por causa da narração da Mariposa. Eles colocaram a personagem da Ernessa de um jeito bem mais assustador do que no livro, e isso perdeu um pouco do toque de terror psicológico do livro e transformou o filme num suspense.

Outra crítica negativa é que o filme perdeu quase completamente a carga filosófica. Por ter sido adaptado de forma mais adolescente todos os diálogos e monólogos que envolviam psicologia, poesia e filosofia se perderam. Em quase toda página de seu diário a Mariposa citava algum autor ou filósofo, baseando suas teorias em relação a Ernessa com frases e interpretações dos textos, mas isso não teve espaço no filme. Eu entendo o motivo, mas isso me deixou com a impressão de que ficou faltando algo.



Para finalizar, digo que o filme foi bastante fiel ao livro. No entanto, a autora (Rachel Klein) deixou várias pontas soltas para que nós, ávidos leitores, imaginássemos nós mesmo alguns aspectos que a Mariposa não esclareceu. Como a diretora não podia deixar o filme sem muitas explicações, até por que filmes são menos complexos que livros, ela usou a própria imaginação para preencher algumas lacunas.

Algumas vezes eu confundi isso como erro da adaptação, mas no final percebi que era mais questão de licença poética mesmo. Mas, é claro, é difícil substituir as coisas que você imaginou por coisas da imaginação de outra pessoa.
O Diário da Mariposa/Relação Mortal (por que trocaram o nome? POR QUE?) é, na minha visão, um livro/filme excelente, sobre drama adolescente que é REALMENTE drama, e não frescura, sobre suspense, terror psicológico e filosofia. Eu adorei o livro e pretendo lê-lo novamente em breve, e realmente gostei da adaptação.
Espero que depois dessa super resenha dupla eu consiga convencer alguém a ler esta magnífica obra ;)


10 comentários:

  1. Parabéns pela resenha!!
    Estava ontem na rodoviária e vi esse livro.. Fiquei super curiosa, resolvi pesquisar sobre ele e encontrei sua resenha. Só sei que Semana que vem irei compra-lo, fiquei muito afim de lê-lo.
    Beijos! Marisol Carrascosa

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  2. Primeiramente,parabéns pela resenha.Adorei seu blog, serio tb gosto de livros, animes e essas coisas... Gostei muito do seu post falando sobre a depressão. Vou acompanhar seu blog

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  3. Amei a sua resenha, você botou tanta emoção que tô louca atrás desse livro hahaha primeira vez que vim aqui e adorei, parabéns!!

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  4. Olá? Tenho uma pergunta! kkk O livro é como se fosse um diário não é? Então, queria saber se isso foi rela. Tipo, alguém escreveu mesmo um diário? E depois alguém fez um livro desse diário?

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    1. Então, o livro é um livro de ficção sobre uma menina com transtorno de personalidade limítrofe e, provavelmente, algum grau de esquizofrenia. O livro é 100% ficção, mas pelo que eu entendi foi baseado em um acontecimento da adolescência da autora, que conheceu uma menina parecida com a personagem principal em um internato.

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  5. Vim tirar a saudade desse livro que minha prima "roubou" de mim e, nossa amei a sua resenha!!!. Me fez lembrar no dia em que o comprei na bienal do livro quando eu estava no 7ºserie. E sinceramente não sei o que acham de tão mal nesse livro, ele foi um dos melhores que já li e viciei. Vai entender essa gente!

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  6. Eu adoro esse livro, faz tempo que eu li e já tô querendo reler. Mas gosto é que nem braço, tem gente que não tem.

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  7. Peguei o livro na biblioteca da minha cidade, não gostei da capa, mas fiquei com curiosidade ao ler o prefacio e a sua resenha. Fiquei viciada no livro, queria ler tudo no mesmo dia.. Kkk Não gostei muito da forma como termina, não sei o porquê, mas no geral gostei muito do livro! Parabéns pela resenha!

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