sexta-feira, 3 de março de 2017

Lugares Escuros, de Gillian Flynn

Lugares EscurosAutora: Gillian Flynn
Título Original: Dark Places
Editora: Intrínseca
É bom?: ★★★
Páginas: 352
Sinopse: Libby Day tinha apenas sete anos quando testemunhou o brutal assassinato da mãe e das duas irmãs na fazenda da família. O acusado do crime foi seu irmão mais velho, que acabou condenado à prisão perpétua. Vinte e quatro anos depois, quando é procurada por um grupo de pessoas convencidas da inocência de seu irmão, Libby começa a se fazer as perguntas que até então nunca ousara formular. Será que a voz que ouviu naquela noite era mesmo a do irmão? Gillian Flynn intercala a trajetória detetivesca de Libby com flashbacks dos acontecimentos do dia do crime com tanta habilidade que o leitor é levado a diferentes direções. Escrito com primor, Lugares escuros não só mostra como a memória é passível de falhas, mas também evidencia as mentiras que uma criança pode contar a si mesma para superar um trauma.

Já faz algumas semana que terminei de ler este livro, mas só agora estou conseguindo refletir melhor sobre esta história, refletindo o suficiente para escrever esta resenha. Não é segredo para ninguém que eu adoro a Gillian Flynn, e esse livro foi um divisor de águas na literatura dela, na minha opinião. Deixou o amadorismo de Objetos Cortantes e mostrou a que veio, antes mesmo de Garota Exemplar.

Lugares Escuros conta a história e Libby Day. Quando Libby tinha sete anos, seu irmão mais velho, Ben Day, matou toda a sua família no que ficou conhecido como Massacre Satânico. O depoimento intrigante de Libby foi o que colocou o irmão na cadeira por quase 25 anos. Libby viveu, depois do julgamento do irmão, indo de casa em casa, ora vivendo com a tia, ora com outros parentes. Ao atingir a maioridade, recebeu uma enorme quantia de dinheiro advindo de doações de pessoas que se compadeceram de seu caso.

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JonBenet Ramsey, caso famoso de assassinato nos
EUA que a autora já citou em seus livros.
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Lyle Stevik, um dos suicídios mais crípticos
dos EUA. Essa foto é uma reconstituição
facial. Curiosamente o nome
de um dos personagens deste livro.
 SEM IMAGEM: Um caso que eu tenho certeza de que inspirou a autora para escrever este livro. NÃO CLIQUE se não quiser ler spoilers sobre a trama, mas caso já tenha lido ou queira saber mais sobre True Crime após ler esse livro, dê uma olhada nesse link.

Agora Libby tem 32 anos e seu dinheiro está acabando. Ela tem depressão e não consegue trabalhar ou estudar, e não sabe o que será de sua vida. Eis que um garoto chamado Lyle entra em contato com ela. Ele é de um grupo de fãs de true crime chamado The Kill Club. Nesse clube, várias pessoas encenam grandes assassinatos ou mistérios, investigam mistérios não solucionados e, no geral, gostam de conhecer histórias de crimes e mistérios reais. Ele é obcecado pelo Massacre Satânico dos Day e quer entrevistar Libby. Está disposto a lhe pagar por isso.

(Vou fazer um adendo aqui: eu adoro true crime. Adoro ler sobre casos famosos de assassinato e desaparecimento, adoro documentários sobre o assunto, adoro mesmo. Sei que nem todos gostam desse tipo de coisa, e ninguém é obrigado a gostar, mas não me apeteci muito da forma como a autora retratou algumas das personagens do Kill Club. Faço parte de várias comunidades on-line de true crime e as pessoas por lá são sempre gentis, nenhuma quer bancar o detetive particular e raramente alguém aparece fazendo comentários danosos, e sempre que isso acontece a pessoa é banida rapidamente. Sempre respeitamos as vítimas e famílias das vítimas. Sempre respeitamos as investigações policiais. Aliás, quase certeza de que a autora é fã de true crime ela mesma, por ter mencionado JonBennét Ramsay em Objetos Cortantes várias vezes e pelo fato desse personagem fã de true crime em Lugares Escuros se chamar Lyle.)

Libby a princípio não gosta da ideia de se expor desta forma, mas ela precisa de dinheiro e aceita ir a algumas reuniões. Logo ela percebe que muitas pessoas que são fãs de seu caso acreditam que seu irmão é inocente, e que Libby poderia ajudar a livrar seu irmão das acusações. Muitos culpam Libby por aprisionar uma pessoa ótima e inocente. Mesmo ela sendo uma criança na época dos assassinatos.

Libby não sabe o que pensar. Ela era criança e poderia ter sido coagida a mentir por promotores de justiça malucos por casos satânicos dos anos 80 e pela tia, que cuidava dela na época. Ela nem tem certeza se viu Ben matar a família, como afirmou em seu depoimento. Libby decide então entrar em contato com seu irmão pela primeira vez depois de duas décadas, e decide também investigar o que realmente aconteceu em seu passado.

  

O livro é alternado entre o ponto de vista da Libby no presente e o de sua mãe e irmão, Patty e Ben Day, no passado. Patty e Ben narram tudo o que lhes aconteceu nas 24 horas anteriores ao assassinato. Conforme avançamos na leitura, as descobertas de Libby cruzam com as revelações dessas personagens.

Eu adorei o livro, mas com algumas ressalvas. Eu geralmente não gosto desse negócio de capítulos alternados por que os autores costumam terminar o capítulo do Personagem X com um cliffhanger e depois temos que ler 20+ páginas do Personagem Y até chegarmos a outro capítulo do Personagem X. Eu adorei os capítulos da Patty e do Ben, mas às vezes me irritava ter que esperar para saber o que aconteceria em seguida na investigação da Libby.

Fora isso, o final do livro foi... Corrido. Reparei que a Gillian Flynn tem certa dificuldade em elaborar seus finais. Eu adorei a conclusão do caso, adorei saber a verdade, mas um aspecto (que é spoiler, não vou mencionar) foi muito vagamente exposto, e eu queria saber mais sobre isso. O livro infelizmente acabou logo em seguida.

A pesar dessas pequenas ressalvas, eu realmente adorei a história. A história foi menos nojenta que Objetos Cortantes, e menos intrincada que Garota Exemplar, mas na minha opinião teve a quantidade certa de mistério, intriga e suspense. Adorei a leitura e espero ansiosamente para ler outros livros dessa autora maravilhosa!

Aliás, adoraria ler um livro protagonizado pelo Lyle, acho que ele tem muito potencial.

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