MASOQ |
Olá, pessoal, tudo bom?
Então, parece que postar resumos está se tornando um costume no blog. Já coloquei aqui um resumo da peça teatral Édipo Rei e do livro Jonathan Strange & Mr. Norrell. Eis que eu, estudante de Letras, leio muitos artigos sobre os mais variados assuntos. Se eu fosse postar todos os meus resumos eu demoraria uma eternidade, é muita coisa para digitalizar, mas eu li o livro Linguagem e Ideologia, do Fiorin, em fevereiro e resumi capítulo por capítulo e pensei: "bom, por que não postar?". Afinal, estamos falando de um livro, pessoas podem ter dificuldade em absorver tudo, diferente de um artigo, que é curto e você pode ler de novo até entender tudo.
Já que eu tive que digitalizar meu resumo para um trabalho, vou disponibilizar o resumo aqui. Se você estiver com dúvidas em relação ao livro, talvez aqui encontre algumas respostas. Se gostar do resumo, deixe um comentário!
Autor: José Luiz Fiorin
Editora: Ática
É bom?: ★★★★★
Páginas: 90
Sinopse: Há duas maneiras opostas de abordar o fenômeno linguístico: uma se preocupa somente em analisar internamente a linguagem, estudando os fatos linguísticos em si mesmos; outra despreza as especificidades da linguagem e busca correlacionar fatos linguísticos como fenômenos da estrutura social. Neste livro, o autor procura mostrar que a linguagem, ao mesmo tempo, goza de certa autonomia em relação às formações sociais e sofre determinações ideológicas. Por meio de uma análise global, mostra que níveis e dimensões são autônomos e determinados. José Luiz Fiorin é professor da USP.
Editora: Ática
É bom?: ★★★★★
Páginas: 90
Sinopse: Há duas maneiras opostas de abordar o fenômeno linguístico: uma se preocupa somente em analisar internamente a linguagem, estudando os fatos linguísticos em si mesmos; outra despreza as especificidades da linguagem e busca correlacionar fatos linguísticos como fenômenos da estrutura social. Neste livro, o autor procura mostrar que a linguagem, ao mesmo tempo, goza de certa autonomia em relação às formações sociais e sofre determinações ideológicas. Por meio de uma análise global, mostra que níveis e dimensões são autônomos e determinados. José Luiz Fiorin é professor da USP.
01) Introdução.
Depois de ser oficialmente tornada ciência, a linguística passou a ser puramente estrutural e se esqueceu das vinculações entre linguagem e homem. A linguística estrutural logo perdeu credibilidade e começou a ser chamada de “linguística burguesa”. A linguagem não é uma instituição social, mas o reflexo da liberdade da fala. Não precisa de muito para ver que a língua pode ser usada como instrumento de ascensão social e de subjugação. Entender onde se localiza a ideologia no fenômeno da linguagem é o objetivo deste livro.
02) Marx e Engels dão as primeiras dicas.
Marx e Engels acreditavam que a linguagem não faz parte de uma realidade autônoma, pois ela é uma expressão da vida real. A linguagem pertence a vários domínios: individual e social, físico, fisiológico e psíquico. A linguagem não está desvinculada da vida social, mas também não existe apenas em nível ideológico.
03) As primeiras distinções.
Um elemento linguístico tem de ser diferente de outro para ter um determinado valor. A linguagem é um sistema comum a todos os falantes da língua, por isso é social. Os elementos linguísticos não se combinam aleatoriamente, mas seguindo regras. O sistema da linguagem não permite selecionar o elemento ideal para cada situação adequadamente. O sistema é necessário para distinguir o discurso da fala. O discurso exprime pensamentos, a fala é a exteriorização do discurso.
04) Quem determina o quê?
A fala é o ato concreto da manifestação da linguagem e não sofre determinações sociais. O sistema linguístico altera-se devido a causas internas do próprio sistema. Essas causas internas podem ser fonéticas, lexicais, dentre outras, a pesar das mudanças na língua se darem geralmente por causas econômicas ou socioculturais. “Toda língua são rastros de velhos mistérios” (Guimarães Rosa, citado na página 17 de “Linguagem e Ideologia”).
05) Discurso: autonomia e determinação.
O discurso segue um sistema rígido de regras. O discurso tem uma estrutura. A sintaxe discursiva compreende os processos d estruturação do discurso. A sintaxe discursiva tem muitos mecanismos, como a fala em primeira ou terceira pessoa, o discurso direto, indireto e indireto livre etc. A sintaxe discursiva tem autonomia em relação às formações sociais, enquanto a semântica depende de fatores sociais. A sintaxe discursiva é o campo a manipulação consciente.
06) Variável e invariabilidade.
Se dois discursos diferentes se utilizam dos mesmos elementos semânticos, como distingui-los? Temos que encontrar a diferença no significado ou o objetivo de cada discurso. A língua varia de formas intrincadas, às vezes de formas imperceptíveis e, às vezes, de forma escancarada. O que é constante é a ideologia por trás do discurso. O discurso pode vir de várias formas, pode ser direto ou indireto, por exemplo, mas a ideologia por trás dele só varia de falante para falante.
07) Duas maneiras de dizer a mesma coisa.
O componente básico dos textos figurativos são as figuras que fazem referências ao mundo real. Os textos não-figurativos tem como base temas, ideias abstratas. Tema é um elemento que não existe no mundo real, mas que exerce um papel. A língua é um elemento semântico que faz referência a algo real. O discurso figurativo não existe sem o discurso temático por trás dele. Nenhum texto é completamente figurativo ou temático. Nos textos não-figurativos, a ideologia corre livre, diferente dos textos figurativos. No texto figurativo, a ideologia pode estar “escondida” por trás de papéis temáticas, figuras que ocultam ou servem de metáforas para os temas.
08) Que é ideologia?
Existem dois níveis de realidade: um de essência e outro de aparência, um profundo e um superficial. No nível da aparência podemos ter ideias incríveis, que se revelam incorretas ou mentirosas no nível da essência. Ao conjunto de ideias e suas representações que servem para justificar e explicar a ordem social, as condições de vida do homem e as relações que ele mantém com os outros homens é o que chamamos de ideologia. Todo conhecimento está comprometido com os interesses sociais. A ideologia é uma versão de mundo. Cada visão do mundo se apresenta num discurso próprio. A ideologia reflete o nível econômico, mas não apenas isso: a ideologia tem suas próprias leis.
09) Formações ideológicas e formações discursivas.
Uma formação ideológica é a visão de mundo segundo uma classe social. A cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva. O discurso é o lugar da reprodução, não da criação. Há um desacordo entre a dúvida de se é possível pensar sem linguagem. A partir de uma certa idade o pensamento se torna predominantemente conceptual e não existe sem uma linguagem. Quando se diz que não há ideias independentemente da linguagem, está se falando de pensamento conceptual. Pode-se dizer que o discurso materializa a ideologia. Mas, se o pensamento e a linguagem são indissociáveis, onde fica a consciência individual?
10) A consciência é um fato social.
“A realidade da consciência é a linguagem” (página 37). O conteúdo da consciência, de nossos pensamentos, ideias e ideologias são frutos de fatores sociais. A todo momento, desde o nascimento até a morte, nós vivemos em sociedade. A sociedade dita nossos pensamentos, nos apresenta ideais a seguir e a ignorar. Muitas vezes, a sociedade cega. Será que nossa consciência é de fato nossa ou um punhado de assimilações?
11) A individualidade na linguagem.
Nossa sociedade cultua a originalidade. Quando se expressa uma ideia, o signo linguístico é formado por dois componentes: o conteúdo (conceito) e seu significado (suporto do conceito). O significado é o que se quer dizer e o significante é a forma como se diz. O signo é a união do significante e do significado. O conteúdo é diferente da expressão, a iminência difere da manifestação, o discurso não é o mesmo que texto. Por exemplo, um mesmo discurso pode se manifestar por diferentes textos, construídos com diversos materiais de expressão. No nível da manifestação, quando de transporta um significado a diferentes significantes, novos sentido são atribuídos.
12) A trapaça discursiva.
O discurso é moldado por formações ideológicas, mas o texto é unicamente um lugar de manipulação consciente. O texto é individual e o discurso é social. Nenhum discurso é único, ele cita outros discursos. Aquele que discursa o faz em detrimento do que o grupo que ele faz parte. O texto, por outro lado, é completamente individual. Aquele que escreve o texto o faz com suas próprias palavras. É um pouco estranho pensar que um meio individual (o texto) veicule ideias sociais (discurso).
13) Falar ou ser falado?
O falante é o suporte do discurso, pois ele é o produto de relações sociais que o fizeram reproduzir um discurso. O agente discursivo é da classe social. A formação discursiva dominante é a da classe dominante. O indivíduo não pensa ou fala o que quer, mas a realidade lhe impõe sua fala. O ser humano reage conforme seu grupo social. O homem é falado por seu discurso.
14) Arena de conflitos e palco de acordo.
O discurso é o espaço da reprodução, pois ele realiza trocar enunciativas, ou seja, pode reproduzir, negar, citar, parodiar outro discurso. Um discurso sempre cita outro. O discurso e o texto são arena de conflitos e palco de acordos, conflitos e acordos são sociais, e só se pode falar de contrato ou polêmica entre textos e discursos, pois eles expressam conflitos e acordos da realidade social.
15) Análise não é investigação policial.
Não adianta tentar decifrar se o discurso de um orador realmente expressa sua ideologia. No caso de livros, o texto pode apresentar muitos personagens com discursos equivalentes a ideologias diferentes, que podem ou não ser a do escritor. A análise não se interessa pelo que o autor não disse ou quis dizer. A análise se limita ao que foi dito.
16) O discurso é reflexo da realidade?
A linguagem cria uma imagem do mundo, e cada língua ordena o mundo à sua maneira. A linguagem tem um papel ativo na hora de se adquirir conhecimento. A linguagem forma uma visão de mundo, nos resta descobrir o que determina essa visão. A linguagem cria a imagem do mundo, mas é também produto social e histórico. Aquilo que acontece na consciência é provocado por algo exterior a ela e independente dela. A linguagem condensa as práticas sociais. Estereótipos e gêneros de palavras também moldam a visão derivada da linguagem.
17) Um exemplo: a linguagem burguesa.
Diz a lenda que os homens são todos iguais, mas, como diz George Orwell em seu livro “A Revolução dos Bichos”, alguns são mais iguais que outros. As relações sociais são naturais, pois decorrem de um fator biológico. O nível temático, que concretiza o dever-fazer e o não dever-fazer presentes na estrutura profunda do texto, revela uma dada visão de mundo determinada pela economia.
18) Outros exemplos: reprodução e polêmica.
Esse capítulo é recheado de exemplos, o autor apresenta textos e os esmiúça para mostrar casos onde o discurso carrega reprodução de ideias externas à linguagem. Esse capítulo é realmente interessante de se ler no caso de dúvidas quanto ao que foi dito antes, mas ele não fala nada de novo.
19) A linguagem faz parte da superestrutura?
A linguagem faz parte da estrutura socioeconômica e política. Nas comunidades primitivas, os homens se comunicavam através de gestos. Os “feiticeiros” primitivos, por outro lado, grunhiam para se comunicar. A linguagem cresceu com esses grunhidos. A paleontologia linguística é caracterizada como um método que buscava aproximações semânticas e comparações fonéticas de vocabulários de diferentes línguas.
No marrismo, acreditava-se que a língua teria origem no desejo de uma classe dominar outra. A evolução da língua ocorre através de saltos. A língua evolui paralelamente com a situação socioeconômica.
Se as transformações na infraestrutura produzem mudanças no sistema linguístico, ele é um elemento da superestrutura. As línguas tem caráter de classe, mas o fato de que, se os homens das cavernas não eram divididos por classes, não poderiam inventar uma linguagem que os separasse.
As posições de Stálin eram contrárias ao marrismo. Ele acreditava que a língua não era um fenômeno de superestrutura e não tem caráter de classe. Ele sustentou seu argumento no fato de que, quando a Rússia saiu do capitalismo para o socialismo, a linguagem não sofreu mudanças. Ele não acreditava em “gramática burguesa” e “gramática proletária”. No entanto, sabemos que a língua não é o único fator no aspecto linguístico. Stálin não levava isso em conta.
No lugar da linguagem é simples compreender que a língua não é sozinha um fenômeno que tenha um caráter de classe. A linguagem já existia antes das classes. Mas as classes usam a linguagem para expressar suas ideologias. As formações discursivas que constituem as formações ideológicas, são portanto fenômenos de superestrutura. Não existem representações ideológicas se não materializadas na linguagem. A linguagem pode até não fazer parte da superestrutura, mas é o seu suporte. As relações entre linguagem e história são nebulosas nem um pouco absolutas.
20) Comunicar é agir.
Um enunciador tem como objetivo transmitir alguma forma de conhecimento, mudar o ponto de vista de alguém. Ele quer compartilhar suas crenças, sua visão de mundo, sua ideologia. A linguagem pode ser um instrumento de libertação ou opressão, de mudança ou conservação, inspiração ou polêmica.
Vimos neste neste livro foram as formações discursivas, como temas e figuras que materializam formações ideológicas. Essas formações discursivas são fenômenos de superestrutura, embora a linguagem e a língua sejam apenas o instrumento de materialização da ideologia.
21) Conclusão.
A linguagem é autônoma em relação às formações sociais e é determinada por fatores ideológicos. Os estudos linguísticos devem fugir de duas ilusões: a total autonomia da linguagem e sua redução à ideologia. A concepção do discurso como fenômeno ao mesmo tempo autônomo e determinado, obriga a análise a estudar o texto e o agenciamento de sentido e para a formação discursiva que governa o texto. A análise não nega o discurso, pois é a chave para entender a ideologia que o governa. O homem não é o senhor absoluto de seu discurso. O homem é servo da palavra, dos temas, figuras, valores e juízos, tudo isso que existe num mundo social.
22) Vocabulário crítico.
O autor montou um breve glossário explicando expressões e palavras frequentes no livro, bem como exemplos e utilização prática das mesmas. É muito bom para consultar durante a leitura no caso de dúvidas quanto ao emprego de uma palavra ou seu significado.
___________________________________
É isso por hoje, pessoal! Espero que eu tenha ajudado alguém, e espero que, mesmo que você não seja particularmente interessado em linguística e análise do discurso, tenha gostado do resumo. Eu acho esse assunto fascinante.
Por último, mas não menos importante, informo que o próximo resumo pode ser um resumo completo dos cinco livros da série As Crônicas de Gelo e Fogo. Fica o mistério no ar...
Até o próximo post!
Eu realmente preciso estudar ;-; |
você não tem ideia do quanto me salvou com esse resumo, eu li metade do livro e nao entendi absolutamente nada
ResponderExcluirMe salvou!!!!
ResponderExcluirExcelente, nos entender o que realmente ideologia significa.
ResponderExcluirExcelente resumo.
ResponderExcluirObrigado!!!
ResponderExcluirMuito bom, tbm sou estudante de letras e estou apanhando em linguística.. muito obrigada mesmo ...
ResponderExcluirtres dicas para o sucesso : 1- Ensinar o q se sabe 2- Praticar o que se ensina 3- Perguntar o que se ignora. Acho que nao preciso falar mais nada sobre voce.
ResponderExcluirMuito bom! Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirO item 08 apenas, no seu começo, ostra uma explicação dúbia
ResponderExcluirmuitos bom esse resumo me salvou e salvou meu argumento crítico
ResponderExcluirMe salvou demais agora
ResponderExcluirVc é demais
Tenho um resumo para fazer ,eu estava perdida ,sem saber fazer ,e me deparei com seu resumo ,vai me ajudar muito.Obrigada
ResponderExcluir