"Esse ano eu desejei estar morto, E todos eles bateram palmas sem saber." |
Oi galerinha, tudo bom?
"Bom Nath, como você pode saber disso?"
Eu espero que sim, por que eu estou péssima. E, sim, eu sou uma daquelas pessoas-horríveis-e-que-não-sabem-o-que-falam que acham que o mundo está perdido.
Acho que pouca gente realmente entende a depressão, a automutilação, a bulimia, entre outros problemas.
Dói muito - pelo menos para mim - ouvir alguém ridicularizando um garoto que se corta por que não consegue ser bom o bastante, uma menina que não consegue comer por que tem nojo de si mesma - e o pior - uma pessoa falando mal de alguém que cometeu suicídio.
O que é tristeza e o que a diferencia da depressão? Eu certamente não sou a melhor pessoa para falar disso, e por esse motivo não vou me aprofundar no assunto.
Mas, ao meu ver, a tristeza é um estado de espírito de alguém que se sente mal com algo ou consigo mesmo temporariamente. A tristeza sempre tem um motivo (a morte de alguém, a perda de algo importante, etc.).
A tristeza trazida pela depressão nunca tem um motivo. Você está triste, você se odeia, você se sente horrível, queimando por dentro, mas não consegue achar um motivo para isso. Depressão é quando você não consegue ser feliz. E, às vezes, você nem mesmo quer mais ser feliz.
Eu tenho a depressão. Passei a vida inteira com medo de que as pessoas me julgassem mal, falando que isso é falta de louça para lavar/chinelada/vergonha na cara, mas eu estou aqui justamente para falar disso, então não importa mais.
Eu passei minha vida toda me sentindo horrível. As pessoas sempre me compararam a outras, e isso me destrói por dentro a cada segundo que passa. Nem sempre é por mal, mas isso não munda o que eu sinto por dentro. Outra coisa que eu não suporto (um minuto da sua atenção, leitor: esse "suporto" não está com o sentido de "eu odeio isso", mas sim de "não aguento/consigo viver com isso. Segue o texto) é quando me dizem que eu copio/quero ser/só faço o que os outros são. Ouvir esse tipo de insinuação é a pior coisa do mundo para mim. EU TENHO PENSAMENTO PRÓPRIO, EU POSSO TOMAR MINHAS PRÓPRIAS DECISÕES! Sempre que eu penso nisso eu não consigo parar de chorar, então sinto muito se este texto não fizer muito sentido.
A questão é que agora há pouco eu estava no Facebook (aquela rede social maldita que eu a cada dia penso mais seriamente ainda em abandonar) e uma página que adora falar mal e promover ódio contra pessoas gordas/que se cortam/são feias/etc. postou uma imagem mais ou menos assim:
-> Uma garota tinha escrito o nome de uma banda que gosta no pulso com um gilete (sim, ela cortou o nome da banda no braço, para deixar isso bem mais claro);
-> O dono da página escreveu uma descrição maldosa;
-> Mais de dez mil pessoas comentaram (os comentários que eu li - obviamente não li tudo - eram TODOS sobre como a garota era uma idiota, como não merecia viver, como merecia apanhar dos pais, que devia ser exorcizada, que isso não é coisa de Deus, etc).
"Estou vivendo, lentamente sangrando" |
Sério gente, em que mundo vivemos? Que diabo de lugar é esse? Me desculpem, mas pelo que vi este não é o tipo de lugar onde quero viver.
Não sei se vocês já ouviram falar no termo Att Seeker, então vou explicá-lo. Literalmente, Att Seeker é um adjetivo atribuído a pessoas que procuram por atenção a qualquer custo, de boas formas e de formas horríveis.
Muitas pessoas que se cortam recebem este adjetivo. Como se estivessem retaliando o próprio corpo numa forma de gritarem "Olhe para mim! Eu tenho depressão! Venha me consolar! Tenha pena de mim!".
Se existem duas coisas que eu odeio são hipocrisia e generalização. Então não vamos ser hipócritas: tem sim muitos adolescentes que se cortam, tiram uma foto e postam nas redes sociais esperando exatamente por este tipo de reação. Mas também não vamos generalizar: nem todo mundo que se corta faz isso. Na verdade, poucas pessoas que se cortam fazem isso. Quem tem depressão tende a guardar isso para si mesmo.
E mesmo se a pessoa tira uma foto do seu corte e coloca no facebook (o que eu não admiro, mas não estou aqui para julgar ninguém), ela não merece receber ódio dos outros. Eles se odeiam o suficiente, não precisam de ninguém fazendo isso por eles.
Há um mês atrás eu assisti a um filme realmente bom chamado Suicide Room (Sala Samobójców, no original). Só encontrei ele em polonês e com legendas em inglês - e demorei muito para encontrar -, então eu não sei se vocês vão conseguir assistir.
O filme conta a história de Dominik, um jovem de família rica que estuda num dos melhores colégios que o dinheiro pode pagar. Ele está entrando no último ano do ensino médio e, numa festa, é desafiado a dar um beijo na boca de outro homem. Ele aceita o desafio, alguém grava o momento e o estrago está feito: todos na internet começaram a xingar Dominik de gay, viado, bixa, boiola, afins.
O que é pior ainda é que, nesse momento, Dominik começa a questionar sua sexualidade e percebe que se ele realmente for gay, todos a sua volta irão odiá-lo e ele nunca será aceito de verdade. Dominik sofre bullying e ninguém (amigos, parentes, NINGUÉM) está ali para ajudá-lo.
"Nah, esse negócio de bullying é frescura. Esse pessoal não aguenta um apelido nessa vida. Vocês exageram nesse negócio contra o bullying".
Pelo contrário. Acho que tudo o que as autoridades, a televisão, a internet e o mundo fazem contra o bullying são atitudes completamente ineficazes. Acho que tem muito a ser feito contra o bullying, principalmente no Brasil.
Então, eu queria muito que você gastasse um minuto do seu tempo comigo. Eu não sou influente. Meu blog é muito pequeno e pouca gente conhece. Mas se você é dono de um blog maior, uma grande página no Facebook ou conhece alguém assim, eu queria pedir que você, por favor, compartilhasse essa postagem. Eu quero muito conscientizar as pessoas sobre o bullying, sobre a seriedade da depressão, mas não sei se consigo fazer isso sozinha.
Eu preciso de vocês. Eu quero fazer um mundo melhor.
É, isso é ridículo, eu vou me arrepender desse post, mas é melhor me arrepender do que fiz do que aquilo que não fiz.
